sábado, 29 de agosto de 2009
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Polvos e Polvinhos,
Arrumei um jeito ótimo de conseguir temas para os finais de semana. Farei assim: Sábado uma homenagem a alguém normalmente esquecido pela maioria. Domingo uma crítica de peça e/ou texto.
Não sou Décio de Almeida Prado nem pretendo ser, mas darei meus pitacos.
Fui assistir ao "O Papa e a Bruxa" no espaço Parlapatões.
O Texto é de Dário Fo ganhador do Nobel de literatura de 1997, dramaturgo e comediante italiano, foi ator e costuma colocar suas idéias no palco antes de colocá-las sobre o papel. Tem o
Um desses que costumam chamar "revoltados", filho de pais socialistas, teve os estudos interrompidos em meio à 2ª Guerra Mundial por ter sido convocado a lutar ao lado de Mussolini, fugiu e escondeu-se em um sótão. Quando finalmente a guerra acabou abandonou seus estudos (arquitetura) indignado (veja só) com a corrupção existente no meio.
Foi um dos responsáveis pela renovação dos teatros italianos (Teatri do piccoli, em português Teatro Pequeno ou algo parecido).
"Os Parlapatões e a história da retomada do Teatro de Rua na cidade de São Paulo caminham juntos. Da necessidade de se expressar com maior liberdade, longe das gastas convenções do teatro de então, o grupo se formou. Em 91, começaram apresentando números circenses e passando o chapéu. Aos poucos, os números ganharam uma forma teatral que gerou os dois primeiros espetáculos: Nada de Novo e Bem Debaixo do Nariz. (continua aqui...)"
A escolha do texto "O Papa e a Bruxa" tem ao menos dois méritos. O primeiro e mais claro é trazer de volta ao Parlapatões o "quê" circense que fez parte deste grupo. A segunda é fazer uma crítica importante à Igreja num momento em que não está em evidência nenhum caso de pedofilia por parte de padres e afins. Erro cometido por exemplo, com Marco Nanini ao montar "O Bem Amado" (há pouco tempo) numa época em que nada é mais óbvio que dizer "políticos são corruptos".
O público (como praxe na praça Roosevelt) é chamado a entrar no teatro por um sino e, atento, perceberá uma luz no canto direito da platéia iluminando um chapéu preenchido por um tijolo e uma flor; justa homenagem às origens circenses.
As músicas que são ouvidas enquanto a platéia aguarda o início do espetáculo são escolhidas a dedo. Cuidado raramente visto nos teatros hoje em dia. O espectador já está sendo levado a atmosfera do que está por vir.
A peça se inicia com um inusitado aviso para que desliguem os celulares, pragas da modernidade. A surpresa, já nos ensinou Chaplin, faz a comédia.
Ao abrir o pano (feito de retalhos) temos um cenário bem cuidado, embora não se entenda o porquê de uma escada que fica alheia à peça até o início do segundo ato, onde é utilizada até a metade deste ato, voltando a ficar alheia a peça dali em diante.
O pano de fundo nos quer levar à Capela Sistina enquanto o canto esquerdo nos mostra uma janela que reproduz o local onde o papa fala com seus fiéis do Vaticano. Janela cujo céu é pintado com um azul claro que nos remete às igrejas evangélicas o que nos poderia levar a crer que não se fala apenas da Igreja Católica, embora a utilize como tema central.
Um figurino muito bem cuidado, este sim sem adjacentes desnecessários, e prático, nos trás outras referências circenses, que o público percebe pelas roupas de baixo de alguns atores.
A peça tem um ritmo funcional apesar de uma ou outra cena mais lenta. Uma cantoria inicial divertida e impactante embora não tão necessária ao enredo. É assim que somos jogados dentro de um mundo onde todos os pontífices (incluindo o maior deles, o papa) tem, no mínimo, um celular.
Temos um papa preocupado com a relação com seus fiéis, sentindo-se perseguido, começa a sentir-se paranóico e perseguido. O que temos durante o primeiro ato é a apresentação dos conflitos do protagonista e os possíveis caminhos que começa a tomar para resolvê-los.
A platéia começa a se cansar quando acaba o primeiro ato. Mais um acerto da cuidadosa direção. Após o intervalo, no entanto, temos um cenário completamente diferente onde a escada finalmente parece ter encontrado seu lugar. Um porão cuja superfície não trás solução ou respostas é também muito bem cuidadoso com os objetos de cena. Um cartazcom dizeres atuais tomam o lugar da janela no canto esquerdo.
O que é feito ali é a escolha do caminho a ser tomado pelo protagonista para resolver sua paranóia quanto à rejeição dos fiéis, refletida em problemas físicos no corpo do papa. O problema é que toda a parte do porão parece estar à parte do texto, como um enxerto sobre um texto já escrito. Engraçada, mas péssima para o ritmo da encenação.
De volta ao vaticano temos um papa renovado e com políticas modernas, adorado pelo público mais jovem e odiado pelo setor mais retrógrado, na figura do arcebispo.
A atuação é, no geral, muito boa. Elementos circenses muito bem incorporados à farsa, incluindo um anão que dá uma aula de como surpreender a platéia, mais um acerto da direção. Embora um pouco exagerada no volume da voz, a peça e o texto são muito bem trabalhados pelos atores. Deles o único erro parece a exagerada entrada dos "cacos" (gíria teatral para falas improvisadas) que trazem Sarney e Belchior entre outros.
Vale a pena conferir o trabalho.
Direção: Hugo Possolo
Com: Parlapatões
Duração: 95 minutos
Classificação: 14 anos
Texto: Dario Fo
Tradução: Luca Baldovino
sexta: 21h.
sábado: 19h e 22h.
domingo: 20h.
Pça. Franklin Roosevelt, 158 - República - Centro. Telefone: 3258-4449.
Aceita os cartões Amex, Diners, MasterCard, Visa. Ingresso: R$ 15 (sex.) e R$ 20 (sáb. e dom.).
2 comentários:
Fiquei muito curiosa para ver a peça...
30 de agosto de 2009 às 09:45Olá, parabéns pelo blog...andei lendo alguns de seus posts, principalmente os que falam de "viver do teatro é praticamente impossivel", eu concordo, tenho apenas 16 anos, sou ator do Grupo de Teatro Migalha de Pão, ultimamente venho tentando fazer do meu grupo,um grupo sustentavel... mas até agora foi impossivel! Na minha cidade que ja não há nem sequer palcos pra fazer uma apresentação decente, nem ao menos alguem que realmente apoie a cultuta, nem ao menos prefeitura, que nos retirou da nossa sala na casa da cultura pra poder trazer reuniões de uma multinacional. Nós tentamos fazer uma apresentação, e o resultado foi uma platéia de 70 pessoas, que muitos foram porque tinham o ingresso gratuito, isso que o nosso ingresso era apenas 5 reais! É decepcionante ter que passar por isso, sem ao menos alguem que enxergue o que andam fazendo com a cultura no nosso pais.
30 de agosto de 2009 às 20:00Parabéns, ótimo blog! Se quiser entrar no blog do meu grupo, está convidado! www.grupomigalhadepao.blogspot.com
contato: migalhadepao@hotmail.com
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