quinta-feira, 29 de outubro de 2009

O fazer teatro

Você chega no Teatro, entra, o palco está vazio, assim como a platéia. Você cumprimenta o bilheteiro e a faxineira que religiosamente limpa aquela manchinha que você propositadamente deixou no canto esquerdo do palco para não ficar fora do foco. E entra no camarim....





Você arruma suas coisas. Como sempre. Você chegou cedo porque gosta de ter tempo para se maquiar, colocar o figurino e bater um papo com o elenco antes da peça começar.



Eventualmente você faz um aquecimento. Guarda a garrafa de água no canto da coxia, você sabe que depois daquela cena vai precisar de água e terá exatamente o tempo necessário para tomá-la.



Você repassa em sua cabeça cada vírgula do texto. Sabe que aquela fala não está como deveria e resolve mudá-la, testa uma, duas, quinze maneiras. Volta à maneira original, é melhor assim.



De repente, não mais que de repente você começa a pensar no porque disso tudo. Você não vê os jogos do teu time, não sai com os amigos que gostaria e não almoça aquele almoço de família que lhe é tão caro. E ainda ouve piadas que insinuam que tua profissão não é trabalho. E começa a duvidar do contrário.



Mas está firme, forte. O resto do elenco chega e começa a fazer piadas sobre amenidades. Você entra na deles, você sabe que nada é tão grave. O iluminador e o operador de som chegam, e colocam aquela música que sabem que te empolga.



Você começa o aquecimento se divertindo um pouco mais. E volta para a coxia. O público começa a ingressar o teatro.



O burburinho não é tão baixo que não possa ouví-lo, mas também não é alto do jeito que você gostaria que fosse. O mundo continua girando.



Tocam os sinais, você deseja "MERDA" aos colegas e entra em cena.



Para morrer feliz.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Crítica: Distrito 9

Um filme sobre ET's ? Pode ser. Um filme sobre política ? Pode ser. Mais do que isso, é um filme sobre Humanos.  Hoje, a crítica dele feita por mim.







Antes de mais nada reproduzo aqui uma frase do diretor estreante Neill Blomkamp:



"'Distrito 9' não é sobre política, apartheid ou segregação. Mas para mim, qualquer filme que se passe na África do Sul terá esse pano de fundo"

Se você esteve em outro planeta nas últimas semanas, fique sabendo que o filme se trata de um grupo de ET's que chegam à Terra pela África do Sul, com problemas na nave. Sabe-se que os habitantes estranhos acabam por se instalar em Johannesburg onde são mantidos em zona militarizada, separados dos terráqueos.



O Filme se inicia com um clichê bem funcional. Câmera na mão, reproduz-se um Reality Show onde o protagonista é responsável pelo "bem-estar" social dos estranhos.



O começo do filme evita mostrar os ET's de perto, como que se eles causassem nojo, coisa que, de fato, acontece. Você é levado a crer que não tem problema tratar esses seres como lixo, porque, afinal, nem humanos são.



Ai de quem disser que o filme trata do apartheid. 



A força policial não difere muito daquilo que vemos em qualquer favela. Moradores são levados a assinar o que mandam para que se cumpra a lei. Em parte, é claro. 



O filme aos poucos ganha força e o que era Reality Show passa a ser 'apenas' câmera na mão, muito embora ainda coloque "letrinhas ao estilo Cloverfield" com o perdão do informal.



Trás ainda claras referências a filmes diversos (como o sábio leitor deverá ter lido em outros lugares) como Robocop, Alien entre outros. Mas inova.



Não apenas por mostrar seres, teoricamente, inferiores aos humanos; mas também por mostrar como podem ser humanos os ET's e desumanos os humanos. É disso que se trata o filme.



Tem como mérito ser um filme que fala de política sem falar. Ou seja, goste você de política e fará com toda certeza associações políticas. Caso prefira o estilo "política não se discute" verá um ótimo filme de Ficção Científica.



Vale lembrar que o filme foi feito em baixíssimo orçamento e sem ajuda [direta] de Hollywood. Ganhou uma série de festivais e foi visto por Peter Jackson que resolveu bancar sua distribuição mundial.



Vale a pena.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Não Temeis a pausa...

Olá colegas e coleguinhas, após um longo e tenebroso inverno (de duas semanas) eis, que estamos de volta a ativa, que de passivo basta o mundo! E não me venham com xurumelas e triquininas que vou falar é da pressa, nada mais adequado...

É isso aí meu polvinho... Como tem passado? Espero que bem... Quero falar da pressa. Da necessidade da pressa. E calma que tudo vai se encaixar no final (bem, se este for o objetivo, que não forço ninguém a nada...).












Enquanto vão lendo podem ouvir essa musiquinha (direto de Buenos Aires).

A questão é que já não há tempo para mais nada. Pense em quantas vezes esta semana você teve tempo de: olhar o céu.



É, eu sei, sou um sonhador maluco, mas me parece que olhar o céu não leva assim, tanto tempo né?! O Fato é que sem tempo não há criatividade. Sem criatividade não há arte.



Entenderam o ponto? Claro que sim, você acabou de inventar um post todo para justificar a preguiça de postar.



É, pode ser isso. E eu posso ser mais maluco que a loucura, mas acho que a preguiça é parte importante do ser. Aliás, é parte importante da Arte.



Vamos ao tarot então. (É, eu posso ser bem maluco mesmo). A carta de número 0











Como podem ver o Tolo / Bobo é a carta que se refere também ao Louco em alguns tipos de Tarot (não entrarei em detalhes...)







Como podem ver nas imagens a certa semelhança entre as cartas, eu, por motivos teatrais, prefiro a segunda... E reza a lenda de que o Louco, é responsável pelas mudanças, pela espontaneidade e...



Pela preguiça que, nós atores sabemos bem, nos aflige momentos antes da entrada no palco... E é absolutamente necessário!



Não apenas porque o ócio traz a criação genuína, não apenas porque é ele quem nos faz mudar de assunto, trocar a página e seguir em frente, mas principalmente porque somos seres humanos...



Bom, éramos pelo menos...



Então hoje, quando for engolir tua refeição, pare e coloque um relógio na tua frente. Demore 20 minutos. Aposto que será difícil...





quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Como divulgar sua peça / 10 dicas excelentes!

Hoje o último tópico da série "Como Divulgar sua peça", e espero que tenham sido úteis. Se você mandou um comentário e ele não foi publicado ainda, calma! Eu estou viajando e este post foi escrito alguns dias atrás, assim que puder juro que te aprovo!



É isso aí meu Polvinho,



Indas e vindas depois, cá estamos nós traveiz. Espero que os posts tenham ajudado alguns de vocês a divulgar sua peça, hoje umas dicas mais gerais, mas do mundo "não-virtual".



Vamos a elas...



Se puder contrate um assessor de imprensa. (Faça uma força, valerá a pena, já que o resultado você verá na sua platéia).



Mas você não pode? Ok, nem tudo está perdido.



1. Busque jornais gratuitos e veja como divulgar sua peça por lá. Existem muitos jornais que aceitam a divulgação da peça e alguns até pedem por isso, já que faltam pautas!



2. Procure por folhetos informativos gratuitos, desses que recebemos quando vamos ao teatro (aqui em São Paulo são, principalmente dois: "Boca-a-Boca" e "Guia Off" ), normalmente eles fazem divulgação gratuita também, muito embora você tenha que pedir com antecedência.



3.Procure por jornais de bairro (preferencialmente próximos ao espetáculo) eles normalmente divulgam gratuitamente.



4.Espalhe cartazes pela cidade. Onde? Depende do público alvo, mas pense nele seriamente.



5. Ponha um aviso nas escolas de teatro de sua cidade, atores gostam de ver outros atores atuando e normalmente são excelentes divulgadores do boca-a-boca.



6. Procure encontrar o contato de alguns jornalistas (ok, a chance é mínima, mas se conseguir bingo!) através dos sites dos jornais ou mesmo na coluna onde escrevem, e mande um release. (NÃO FAÇA SPAM, jornalista é um bicho chato, mande e-mails individuais ou esqueça)



7. Panfletos são baratos, utilize-os (lembre-se do público-alvo).



8. Faça parcerias com outras peças (não importa se do mesmo teatro ou não, basta que o público tenha a mesma faixa etária). Divulgue a peça de outra pessoa no seu espetáculo e peça que façam o mesmo, você pode até bolar uma promoção!



9. Faça promoção do tipo, seu amigo ganha desconto de X% na apresentação do seu ingresso.



10. Faça estardalhaço na rua do espetáculo, coloque atores para fazer esquetes, distribuir panfletos e afins.



Espero ter ajudado! :)

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Como Divulgar sua peça (3)...

Continuando a série de posts sobre como divulgar sua peça (veja os posts 1 e 2) onde já falamos de maneira mais geral e mais específica com relação ao Twitter. Hoje falaremos mais sobre o Orkut.



É muito comum que pessoas resolvam divulgar suas peças, cursos e afins em comunidades ou mesmo em mensagens pelo Orkut. E é justo, afinal quase 76% dos usuários do Orkut são brasileiros.



Mas como fazer?



É simples, porém trabalhoso. Você deve dedicar parte de seus dias para a divulgação exclusivamente no Orkut, mas pode acreditar, dá resultado. O que fazer?



Existem algumas formas:



1. Mensagens para todos os "amigos". (eu acho pouco eficiente, até porque raramente eu vejo estas mensagens, mas não abdicaria de enviá-la.)

2. Promoção (novo no Orkut).

3. Mensagens em comunidades.



Mas para utilizá-las siga algumas regras:



Para mandar mensagem para os 'amigos' NÃO SE ESQUEÇA de que eles não moram no mesmo bairro que você. Parta do princípio de que são todos bobos e feios e que não sabem andar de ônibus, em suma, SEJA CLARO! Endereço deve ter cidade, estado e telefone. FACILITE a vida das pessoas.



me recuso a dizer que é preciso dizer o NOME da peça, né?!



Para utilizar  recurso promova vá no link "Promova" :







Ao clicar (veja imagem ao lado) aparecerá a seguinte tela:







Aí ficou fácil, você clica em "promover" e já era...





















Agora, se você quiser realmente promover sua peça, participe de comunidades que tenham a ver com Teatro (existem muitas) particularmente, observe quais comunidades têm tópicos recentes (que não sejam apenas "Workshop disso ou daquilo", mas que sejam realmente discussões) e participe das discussões, isso trará interesse em você e conseqüentemente na sua peça...





Amanhã falaremos mais de como divulgar em meios não virtuais, fique atento!

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Como Divulgar sua peça (2)...

Hoje vamos falar um pouco mais sobre como divulgar sua peça no twitter e nos blogs...



É isso aí polvinho, vamos direto ao assunto que ninguém está de bobeira na vida (infelizmente)... (para você que está começando hoje, a parte 1 está aqui)



1. Crie um Twitter com o nome da peça ou, melhor, com algo que remeta à peça. Não se esqueça de que o twitter permite apenas 140 caracteres, portanto escolha um nome curto. (ex: @turrar )



2. Adicione pessoas que sejam ligadas a cultura. (Pesquise um pouco sobre perfis que tenham a ver com cultura. Ex: @testedeelenco )



3. Adicione o maior número de pessoas possível. (Adicionar não é seguir e logo em seguida parar de seguir, siga mesmo...)



4. Não fale apenas da peça. Todos saberemos que você está aí para divulgar a peça, mas se não disser coisas interessantes ninguém o seguirá por muito tempo, portanto mantenha-se atualizado e diga coisas relevantes.



5. 3 vezes por dia é mais do que suficiente. Não fique repetindo a informação a cada dois minutos achando que assim mais gente o ouvirá. O resultado será o oposto.



6. NÃO USE CAIXA ALTA. A Xuxa já mostrou no que dá...



Amanhã falaremos do Orkut...

domingo, 4 de outubro de 2009

Como divulgar sua peça...

Existe muita gente querendo divulgar sua peça, seu filme, seu evento pela internet, mas pouquíssimas pessoas sabem como fazer isso direito, hoje, algumas dicas a respeito...



É isso aí meu polvinho, vamos a algumas dicas sobre como divulgar sua peça, mas principalmente como NÃO FAZER para que sua peça tenha uma excelente divulgação...



A primeira coisa que você PRECISA saber é que, na internet, NIGUÉM, repito, NINGUÉM é seu amigo ou conhecido. E se for, esta pessoa não vai se importar de você repetir ONDE é sua peça, filme ou evento, portanto SEMPRE DIGA ONDE É SEU EVENTO.



Esta dica parece óbvia falando assim, mas é impressionante o número de e-mails, recados, e afins que recebo sem a devida divulgação do local, cidade e estado. Aberrações do tipo, "ao lado do supermercado da fulana" não fará ninguém se interessar por nada...



A segunda dica que você deve manter em mente é aprender as regras da internet. SIM ELAS EXISTEM. Ninguém ficará feliz se você as desobedecer e isso trabalhará contra você mesmo(a) (falarei delas mais adiante).



Use todas as ferramentas que estiverem ao seu alcance: Twitter, Orkut, Facebook, Fórum de discussões, E-mails (NÃO SPAM) de grupos com afinidades com seu evento. (falarei mais adiante)



Vamos recapitular para ninguém ficar confuso:



1. Onde é? Cite sempre o seguinte: 1. Estado 2. Cidade. 3. Endereço 4. Telefone 5. Site ou blog (se houver).

2. Siga as regras. Quando comentar em blogs deixe o seu blog SOMENTE nos espaços determinados. Não comente por comentar, ninguém vai se interessar por você com isso (isso vale no orkut também). Não mande SPAM todo mundo ficará sabendo que você é chato e ninguém irá à sua peça.

3. Use tudo o que estiver ao seu alcance. A saber: Procure por comunidades interessantes (e ativas) no Orkut. Use o Facebook. Tenha um Twitter (e aprenda a twittar mais do que apenas "vá ver minha peça").



Mais algumas dicas virão nos próximos dias...

sábado, 3 de outubro de 2009

Quem (e o quê) lê no Brasil?

Estava eu em meu lugar, veio o Hordones a me chatear... Brincadeiras à parte o blog do sujeito aí é muito batuta, tem indicações legais sobre como incrementar seu blog... Mas escreveu um post a respeito da leitura no Brasil, com a reclamação, comum, de que aqui em se plantando tudo dá, menos leitores...



Pode até ser que seja isso mesmo, muito embora alguns dados (inclusive já citados por mim aqui ) mostrem que o número de leitores no Brasil tem (assim sem acento hoje, já que até 2012 é opcional) crescido de forma constante...



O número de cópias vendidas daquela saga (que eu achei um porrezinho) Crepúsculo e etc. comprovam também, e me levam ao cerne da 'questã'.



Mais do que não ler o povo brasileiro não sabe O QUE LER. Sim, é isso mesmo. Porque não é a toa que os livros de auto-ajuda crescem em vendas, máquinas de se vender livros nos metrôs paulistanos também mostram que leitores há!



Acho um erro, meu caríssimo leitor e leitora, dizer que no Brasil não se lê. E vocês podem até achincalhar meu argumento mas...



Peguemos o número de novos cristãos (falo dos 'evangélicos'). Enorme, concordam? Basta dizer que esta religião, se é ou não séria deixo a cargo das senhoras e dos senhores, comprou todos, eu disse TODOS os cinemas 'de rua' de Buenos Aires; isso quer dizer que não há cinemas em Buenos Aires? Não. Quer dizer que não há cinemas que não sejam de grandes marcas como as que você certamente conhece.



E o kiko? Dirá o leitor mais aflito. O kiko, caro leitor, está que estes seres humanos lêem (aqui com acento para dar uma variadinha) a Bíblia. Não apenas a lêem como tomam aulas sobre a Bíblia. Ok, você dirá não é exatamente literatura... mas aí eu respondo com o já famigerado (por mim ao menos) artigo sobre Macabeus, Macabéia e Macbeth .



Sim, meu polvinho. Pegue o amigo do Raul, o livro 'O Segredo' entre tantos outros exemplos e me digam que não conhece uma alma que a tenha lido?



É. Pois é. É o que eu sempre digo. Não adianta reclamar que as pessoas não lêem se não dermos base para que elas leiam... E isso não vem com Machado de Assis só na época do vestibular, vem com a formação de bons professores em faculdades melhores que Unip (que, tadinha, sempre vira exemplo de tudo...).



Mas esta também já outra turrada, que fica para outro dia...



Abrejos

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Teatro Obrigatório Universal! (parte final)

Surpresa para vocês... já conhecia o texto porque tive o prazer de ensaiá-lo (embora não tenha apresentado) no curso de teatro do qual fui estudante. O texto virtual foi retirado deste blog aqui!Tenho a impressão de que não está completo, mas caso encontre posto novamente...





TEATRO OBRIGATÓRIO



Por que é que os Teatros estão vazios?



Pura e simplesmente porque o público não vai lá. De quem é a culpa? Unicamente do Estado.



Se cada um de nós se visse obrigado a ir ao Teatro, as coisas mudavam completamente de figura. Por que não instituir o teatro obrigatório? Por que é que se instituiu a escola obrigatória?



Porque nenhum aluno ia à escola se não fosse obrigado. É verdade que era mais difícil instituir o teatro obrigatório, mas com boa vontade e sentido do dever, não é fato que tudo se consegue? E além do mais, não será o teatro uma escola? Então…



O teatro obrigatório podia, ao nível das crianças, iniciar-se com um repertório que apenas incluísse contos como o “Pequeno Polegarzão” ou “O Lobo Mau e as Sete Brancas de Neve”… Numa grande cidade pode haver – admitamos – cem escolas.



Com mil crianças por escola todos os dias, teremos cem mil crianças. Estas cem mil crianças vão de manhã à escola e à tarde ao teatro obrigatório. Preço de entrada por pessoa-criança: cinqüenta centímetros – a expensas do Estado, é claro – dá, cem teatros cada um com mil lugares sentados: 500 euros por teatro, faz portanto 50.000 euros para cem teatros, por cidade.



Quantos atores não arranjavam trabalho! Instituindo, distrito a distrito, o teatro obrigatório, modificava-se por completo a vida econômica. Porque não é bem a mesma coisa pensarmos: “Vou ou não vou hoje ao teatro?” ou pensarmos: “Tenho que ir ao teatro!”.



O teatro obrigatório levava o cidadão em causa a renunciar voluntariamente a todas as outras estúpidas distracções, às cartas, às discussões políticas na taberna, aos encontros amorosos e a todos esses jogos de sociedade que nos tomam e devoram o tempo todo. Sabendo que tem de ir ao teatro, o cidadão já não será forçado a optar por um espectáculo, nem a perguntar-se se irá ver o Fausto em vez de outra coisa qualquer – não, assim é obrigado a ir, cause-lhe o teatro horror ou não, trezentas e sessenta e cinco vezes por ano ao teatro. Ir à escola também causa horror ao menino da escola e no entanto ele lá vai porque a escola é obrigatória.



Obrigatório! A imposição! Só pela imposição é que hoje se consegue obrigar o nosso público a vir ao teatro.



Tentou-se, durante dezenas e dezenas de anos, convencê-lo com boas palavras e está-se a ver o resultado! Truques publicitários para atrair as massas, no gênero de “A sala está aquecida” ou “É permitido fumar no foyer durante o intervalo” ou ainda “Os estudantes e os militares, desde o general ao soldado raso, pagam meio bilhete”, todas estas astúcias não conseguiram encher os teatros, como estão a ver!



E tudo o que se gasta num teatro com publicidade passará a ser economizado a partir do momento em que o teatro se torne obrigatório. Será porventura necessário pagar publicidade para se mandar as crianças à escola obrigatória?



Como também deixará de haver problemas com o preço dos lugares. Já não dependerá da condição social, mas das fraquezas ou da invalidez dos espectadores.



Da primeira à quinta fila, ficarão os surdos e os míopes!



Da sexta à décima, os hipocondríacos e os neurasténicos!



Da décima à décima quinta, os doentes da pele e os doentes da alma.



E os camarotes, frisas e galerias serão reservados aos reumáticos e aos asmáticos. Tomemos por exemplo uma cidade como Munique: descontando os recém-nascidos, das crianças com menos de oito anos, dos velhos e entrevados, podemos contar com cerca de dois milhões de pessoas submetidas ao teatro obrigatório, o que é um número bastante superior ao que o teatro facultativo nos oferece.



Ensinou-nos a experiência que não é aconselhável que os bombeiros sejam voluntários e por isso se constituiu um corpo de bombeiros.



Por que razão o que se aplica aos bombeiros não se aplicará também ao teatro?



Existe uma íntima relação entre os bombeiros e o teatro. Eu que ando pelos bastidores dos teatros há tantos anos, nunca montei nem vi uma só peça que não tivesse um bombeiro presente na sala.



O T.O.U., Teatro Obrigatório Universal, que propomos, chamará ao teatro numa cidade como Munique, cerca de dois milhões de espectadores. É pois necessário que, numa cidade como Munique, haja: ou vinte teatros de cem mil lugares, ou quarenta salas de cinqüenta mil lugares, ou cento e sessenta salas de doze mil e quinhentos lugares, ou trezentas salas de seis mil duzentos e cinqüenta lugares, ou seiscentas e quarenta salas de três mil cento e vinte cinco lugares ou dois milhões de teatros de um único lugar.



É preciso que cada um trabalhe no Teatro para se dar conta da força que daí nos pode advir, quando o ambiente de uma sala à cunha, com o público de – digamos – cinqüenta mil pessoas nos arrebata!



Aqui tendes o verdadeiro meio de ajudar os teatros que estão pelas ruas da amargura. Não se trata de distribuir bilhetes à borla.



Não, há que impor o teatro obrigatório! Ora quem poderá impor senão… o ESTADO.



Karl Valentin (Munique, Alemanha - 1882 - 1948)