sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Eu tive um sonho

Não, não sou Martin Luther King, mas posso sonhar, ou não?

Não sou nada.

Nunca serei nada.

Não posso querer ser nada.

À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.





Eu tive um sonho.

Um sonho onde nenhum produtor me mandaria convites para atuar de graça.

Um sonho onde os universitários que produzissem arte buscassem leis de incentivo para pagar os envolvidos. E conseguissem apoio.

Um sonho onde dizer não ao trabalho de graça não fosse visto como arrogância, mas dignidade.



Eu tive um sonho.

Um sonho onde existissem escolas públicas de arte. E não fossem construídas pelos amigos do governador.

Um sonho onde fosse possível sonhar de viver do teatro. E não precisassemos fazer Tv antes para isso.

Um sonho onde ser bonito(a) não fosse requisito primordial para o sucesso artístico. Nem o único.



Eu tive um sonho.



Eu tive um sonho.

Um sonho onde fosse possível dizer a palavra arte sem amontoar significados que mais lembrem a palavra ignorância.

Um sonho onde ir ao teatro significava ver teatro.

Um sonho onde fazer cinema fosse possível a todos. Mesmo os que só querem sucesso.



Eu tive um sonho.

Não tenho mais.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Crítica: "O Solista"

Um drama baseado em fatos reais, sobre um ex-estudante de uma escola famosa de música que torna-se mendigo (morador de rua seria o mais correto) e acaba descoberto por um jornalista... Veja a crítica!





Antes de iniciar a crítica do filme "O Solista", devo dizer que fiquei sabendo do filme através de uma dessas entrevistas promocionais que passam a todo momento em nossas Tvs por cabo.



Jamie Foxx estava dizendo o quanto foi difícil fazer o papel por se tratar de um deficiente mental (provavelmente esquizofrênico) que o fazia a todo momento reviver seus medos. Foi, ainda segundo ele, aconselhado a deixar o papel de lado e abandonar o projeto por uma psicóloga que deveria fazer sua supervisão...



Isto posto, vamos à crítica...



O filme começa mostrando a vida do jornalista e como ele chega ao personagem central da trama. Nada de incomum, a não ser por um acidente sofrido pelo jornalista e que não muda absolutamente nada na trama, e , em minha humilde opinião, sem sentido, embora o espectador mais atento possa querer dar um sentido mais amplo à queda de bicicleta sofrida por ele. Para mim, não há sentido figurado que compense.



A trama começa a tornar-se mais interessante a medida em que o jornalista tenta se aproximar do "solista".



As atuações de Jamie Foxx e Robert Downey Jr. estão, de fato, inteligentes, sensíveis e o principal, precisas.



Se há uma crítica ao personagem do jornalista, ela não é panfletária. É preciso estar também atento ao roteiro e às dicas que o filme dá ao criticar o 'modo colonizador' como se aproxima o 'são' do 'maluco'.



Intrigante quando precisa ser, e tenso quando quer, o filme tem uma ótima câmera. Além de uma trilha sonora de dar inveja, claro, feita de clássicos de Beethoven e Bah.



Não vejo motivos para um ator enlouquecer, perder a cabeça ou coisa que valha com o personagem central. Mérito, aliás que ganha o filme. Pois se todos conhecemos uma história parecida ou lenda urbana que o valha, a do "Solista" faz valer a pena o ingresso.



Um menino estudioso, atento, sensível. Que acaba por tornar-se obsessivo e 'louco'. Que toca quando quer e para quem quer, e não quando mandam. A loucura trás mesmo o caos e uma anarquia real (não aquela de orelha de livro). Mas esta é uma outra história.



Vale a pena conferir, ao menos pela atuação que, aposto, renderá uma indicação ao Oscar.





quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Blog foi entrevistado

Veja a matéria que foi feita a partir de algumas entrevistas, entre elas uma com o blog, para a faculdade UniSant'Anna













(Clique na figura para aumentá-la e conseguir ler. Não, eu não sou nenhuma das fotos...rs)



Abaixo a entrevista e as respostas originais...



Você costuma frequentar teatros a preços populares?

 Sim, normalmente é este tipo de peça que costumo assistir. Mas é preciso desmistificar aquilo que chamamos de preços populares. Um jogo de futebol, em São Paulo, tem preços de R$20 a R$30 (preço cheio) então este são valores que podemos considerar populares. Quando falamos preços populares, em geral, nos vem a mente valores de R$5,00. No teatro, em geral, esse valor é impraticável. No entanto não é preciso cobrar R$80, R$100 para sustentar uma peça...



O que acha do projeto do Vale-Cultura?



Acho muito bom. É preciso incentivar a cultura também para o lado do espectador. Costuma-se pensar somente em leis de incentivo a quem produz cultura, e muitas vezes nos esquecemos que há um outro lado... Acho muito interessante a idéia de se pensar cultura como direito do trabalhador. No próprio site do Minc você tem uma comparação aos benefícios que o trabalhador tem em relação ao transporte por exemplo. Essa mudança é estrutural, é de pensamento. Acho louvável que se incentive a cultura como parte da rotina das pessoas.



Acredita que este projeto trará mais consciência cultural às pessoas?



Não. Por sí só não. Mas trás à tona a discussão. O trabalhador terá que pensar em cultura ao menos uma vez por mês, nem que seja só para decidir se vai abrir mão de parte do salário (o Minc diz até 10% do benefício) para a cultura ou não. No entanto é preciso que se faça uma política mais ampla nesse sentido. Aqui em São Paulo se fez a Virada Cultural, a Virada esportiva, no entanto acabaram os shows de domingo no Ibirapuera. Parece pouco mas é grave. Trago de novo a questão simbólica como ponto de partida: A cultura deve ser rotineira ou pontual? As viradas trazem mais mídia ao governo (municipal e estadual no caso) mas os shows de domingo criavam uma rotina de cultura... outro ponto a se discutir é o que exatamente a lei entende por cultura... no geral música, teatro, cinema e esporte são cultura, mas se vamos aos orçamentos veremos que o dinheiro do teatro, música e cinema saem de um lugar e o de esporte sai de outro...



Você gosta de cinema? Que tipo de produções mais te provoca?



Depende do sentido de provocar (risos). Não vejo diferenças provocativas (no sentido de fazer pensar) em tipos diferentes de produções, mas em tipos diferentes de estéticas, de temas. Não sou do tipo que pensa que Hollywood por ser comercial não faz provocações sérias e profundas.... Nem acho que só por ser independente a produção é boa, sagaz. Gosto quando a coisa sai do óbvio, quando alguém pega o Coringa e o transforma num fator de questionamento a respeito da caos ou mesmo quando o batman deixa de ser um herói e passa a se questionar até onde deve ir, se está fazendo justiça ou vingança. Mas gosto também quando um "Habana Blues" filme cubano, de baixíssimo orçamento e distribuição transforma a questão de deixar ou não sua terra em uma questão maior do que o simples lá é bom aqui é ruim ou vice-versa. É preciso relativizar mais os filmes de Hollywood, e também os filmes ditos 'cult'. Não é porque tem dinheiro que é óbvio e contra-producente nem porque não tem será necessariamente questionador...



Sobre o cinema iraniano. O que acha de filmes que tratam de situações corriqueiras e simples de forma elaborada, inocente, mas carregada de política e carga emotiva?



Conheço pouco do cinema Iraniano, conheço apenas os filmes do Abbas. O simbólico é uma arma potente hoje em dia. Você fala de política e ouve que isso não se discute. Então é preciso arrumar outros meios para falar da política. Talvez falando de um menino que busca o colega batendo de porta em porta seja uma forma de dizer que precisamos achar o caminho, fazer por onde mesmo quando não há incentivo político para isso. Ou talvez seja só um menino perdido mesmo, quem sabe? O realismo com o simbólico é uma forma de driblar a censura por lá. Mas pode ser usada por aqui para driblar o 'analfabetismo político', para falar de política sem precisar ouvir que todo político é corrupto.



Se recorda de algum exemplo de produção com este mesmo perfil?



Por incrível que pareça lembro de Hollywood. Do "Lost in Translation" (Encontros e Desencontros, péssima tradução). Fala de um ator em decadência que ao ir gravar no Japão percebe que precisa repensar muita coisa... Nesse sentido (situação corriqueira, inoente mas carregada de política e carga emotiva) acho bem parecido. A diretora consegue trazer a tona discussões profundas a respeito da busca de sentido para a vida mostrando algo que, em princípio, seria normal. Mas certamente há uma linguagem única no cinema iraniano, como há em alguns filmes nacionais.



Já assistiu a algum filme do cineasta Abbas Kiarostami?



Sim, Onde é a casa do meu amigo? e E a vida continua.



Vi em seu blog sua última atualização na qual comenta sobre a "missão" do teatro.

A Soninha, em entrevista, comentou sobre o vale-cultura e como se preocupavam se o trabalhador beneficiado assistiria a peças teatrais ou se preferiria gastar o valor com grandes produções de Hollywood. Ela completou dizendo que ninguém diz ao funcionário o que deve ou não comer com o seu VR. Ou seja, o governo não deve decidir o que é importante, no âmbito cultural, para cada cidadão.

O que pensa a respeito disso? De como as pessoas irão utilizar seu benefício de consumo cultural?



Penso que é muito fácil uma política (porque é governante) passar a responsabilidade para o cidadão. Mas também acho muito fácil para mim (como cidadão) dizer que a responsabilidade é do governo. A questão é mais profunda. É claro que não compete ao governo a tarefa de escolher o que é importante para o cidadão assistir ou deixar de assistir. Mas não escolher, atualmente, já é escolher. A partir do momento em que temos uma cultura de celebridades é muito difícil dizer ao trabalhador que abra mão delas para assistir algo novo, talvez, mais complexo.



Como disse anteriormente é preciso que a cultura passe a ser rotina. Não dá para assistir só às grandes produções cinematográficas, mas também não dá para abdicar delas. A questão é complexa. Acredito que, incialmente, haveria uma 'fuga' para as produções mais conhecidas, mas sendo uma política continuada é possível incentivar o trabalhador a ver outras coisas. Imagine que a Fernanda Montenegro acaba de pegar apoio da Lei Rouanet para um espetáculo a R$15,00, isso é ruim? Não acho. Acho muito bom, fez parte da minha formação como ator assistir ao Paulo Autran, Raul cortez, Marco Nanini. Mas fez parte também assistir espetáculos de rua, grupos amadores, tudo isso é cultura. Então penso que no começo o cidadão "vai tirar o atraso" ver os grandes filmes nos cinemas.



Mas não podemos esquecer que o povo já assiste às grandes produções sem incentivo, de uma maneira ou de outra ele terá maior direito de escolha no âmbito cultural. Cabe aos artistas buscarem incentivos para a divulgação das obras culturais que não contam com as celebridades, principalmente na questão da propaganda porque já se produz muita arte independente, mas as pessoas não ficam sabendo. Caso soubessem poderiam de fato optar, mas isso não ocorre hoje, por isso digo que não direcionar (por parte do governo) já é dar um direcionamento, porque as grandes mídias estão aí, ocupando seu espaço; os alternativos é que precisam, realmente, tornarem-se alternativas culturais, mas para isso é preciso um esforço conjunto do governo com os artistas (principalmente os que não estão na TV)








Acha que seria também importante aproximar as pessoas da arte, promovendo oficinas e cursos?



Essa é uma outra questão. Oficinas e cursos são importantes para formarem os artistas. Hoje só tem uma formação completa (com história da arte, do teatro, estéticas etc.) quem é de classe média e está em SP ou RJ, principalmente. Claro que há exceções. Muito boas por sinal (Wagner Moura, Lázaro Ramos e por aí vai...). Acho que para aproximar as pessoas da arte a arte tem de estar presente nas ruas. Precisa haver museu, exposição, shows, peças de graça.



Precisam haver novelas mais culturais, mais filmes nacionais na TV, mais seriados relevantes em horários populares (não apenas na madrugada porque isso também impede o trabalhador de assistir) tudo isso aproxima as pessoas da arte.



Oficinas e cursos estão faltando demais, mas é uma outra questão, a da formação. Não dá para a Soninha dizer que o governo não pode decidir que produções o cidadão irá assistir se o governo dela não fornece formação cultural de graça ou a baixo custo. Que cursos técnicos de teatro, cinema, dança existem por aí? Pouquíssimos... Então as pessoas se afastam desde sempre da cultura. Aí não há vale-cultural que resolva. Se eu não vejo a arte como meio de vida eu a afasto de mim. Aí vou atrás do que está na minha cara que são as grandes produções. Não podemos formar a classe média e alta na arte e esperar que o público de baixa renda procure filmes alternativos, peças sem atores de TV, isso é surreal.



Eu vejo muito embate em torno da Lei Rouanet mas não vejo em torno da formação dos atores...



É claro que o blog agradece à repórter Sâmia Gabriela pela oportunidade e divulgação da entrevista, mas também não se surpreende com a ligeira distorção devido à falta do contexto da minha fala. Para explicar: na fala em questão eu deixo claro que é fácil para mim culpar o governo e fácil para o governo culpar o cidadão...Mas também não foi assim tão grave,,,

terça-feira, 17 de novembro de 2009

CLARIÔ ABRE INSCRIÇÃO PARA OFICINAS!

O GRUPO CLARIÔ, em parceria com a ASSAOC, esta oferecendo oficinas de Teatro e Dramaturgia no Espaço Clariô.

As inscrições estáo abertas e as aulas iniciam ESTA SEMANA.





Informações: 11 9995 5416



OFICINA DE TEATRO

Publico alvo: Crianças e adolescentes (d 08 à 15 anos)

Mestres: Janaina Batuíra e Alexandre Souza - João

Dias: Terças e quintas feiras das 13:00 as 16:00

Local: Espaço Clariô

GRATIS!



OFICINA DE DRAMATURGIA

Para adolescentes e adultos

Mestre: Will Damas

Dias: Sextas Feiras das 18:30h as 22:30h

e Domingos das 15 as 19hs

Local: Espaço Clariõ

Gratis!



--

Grupo Clariô de Teatro

www.espacoclario.blogspot.com

Stand Up Comedy

O que é o StandUp Comdey? Porque essa repentina moda de Stand Ups no Brasil? É repentina? O que é 'melhor' um bom Stand Up ou uma boa comédia?



Polvilhos e Polvilhas,



Como estão? Ok.



Já faz um certo tempo que venho percebendo um crescente das 'comédias de pé' (viu, fica melhor em inglês, vou fazer o quê?)



Não é de graça isso. E vocês podem me xingar, achincalhar ou mesmo tentar me matar (vem aí, manu!) mas ainda assim eu vou dizer:



O que se chama de Stand Up no Brasil faz sucesso por ser engraçado. E só engraçado. Sem conotação inteligente das piadas. Sem a menor politização. Sem pomba nenhuma.O povo adora porque é uma seqüência de piadas estúpidas engraçadas.



#ProntoFalei



E não me venham com um ou outro exemplo, porque sabemos todos. Exceções existem para confirmar a regra.



Não é de hoje que reclamo do nível das comédias em São Paulo. Não é de hoje que abandonaram qualquer senso de crítica, implícito em grande parte das comédias boas (para evitar de dizer todas...).



Não é de hoje que o máximo da comédia crítica que surge em São Paulo (com exceções, parlapatões, por exemplo) é "O Pagador de promessas" texto que, hoje, está batido. Digo HOJE ESTÀ BATIDO porque não é novidade nenhuma, nem crítica nenhuma dizer que os políticos são corruptos HOJE. (reparem que escrevi HOJE em maiúscula para depois não me entupirem as caixas com mensagens do tipo: é um clássico, como você desmerece assim ?)



Acho que existem Stand Ups ótimos (em São Paulo não conheço) mas a maioria abdica do essencial que é o mínimo de crítica. Mas tudo bem, porque política não se discute. (tenho nojo dessa frase).





Chris Rock é um exemplo de Stand Up crítico.



O que o Marcos Mion tentou fazer na MTV é outro exemplo de Stand Up sem crítica nenhuma (tudo bem, ele fez Célia Helena). Nesse caso específico é ainda mais 'brochante' se você conhece o original.



Enfim cada um sabe das suas preferências. Mas escolhendo o ruim, ao menos saiba que é ruim.



E não me perguntem se prefiro uma comédia crítica ou um Stand Up crítico. Eu sou ator. Gosto dos dois.



Abaixo um leve exemplo de Stand Up não-crítico. Mas muito engraçado.



sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Veio pelo twitter (@gusguimaraes e @cardoso)

Maldade pura...







quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Ensaio sobre o Blecaute

Era uma vez um planeta chamado Terra. O século é XXI. O ano é 2009. O acontecimento?



Uma noite comum.



Um homem comum vivia sua vida. Comum. Na televisão passava um programa que não devia, mas era comum. O homem se levanta, vai até seu quarto, cumprir sua rotina. Já sabemos, comum.



Aperta o botão e liga seu computador. Ordinário. Liga seu sistema operacional, sem saber exatamente o que há para operar. Senta, ouve uma música e começa a escrever um relatório que não sabe exatamente para que serviria, mas que também não era nada incomum.



 E ao chegar em sua cozinha, sua própria cozinha, e pegar um copo e enchê-lo com água gelada e guardar a garrafa na geladeira e tomar um pouco do líquido e sentir-se aliviado, eis que no meio desta série de acontecimentos houve um outro.



E na escuridão de sua própria presença, ali, logo após a fronteira do por do sol não viu-se só. Não viu nada. Um pensamento lhe ocorreu, destes que só uma criação católica, recheada de culpa nos trás.



Pensou e concluiu que não tinha deixado de pagar sua conta. Não. Não era sua culpa. Muito embora ele tivesse saído mais cedo do serviço, dando a desculpa de que precisava entregar um relatório na filial, muito embora tivesse escapado dez minutos mais cedo do que deveria, embora tivesse se sentido mesmo aliviado por escapar um pouco do trânsito, não era sua culpa. NÃO PODIA SER SUA CULPA.



Desligou os aparelhos da tomada, temendo uma pane qualquer. E olhou pela janela. a quanto tempo não olhava sua própria janela? Viu uma cidade que não reconheceu. Viu uma coisa que não era inteiramente comum. Um quê de não sei quê tomava conta das pessoas. Não era a escuridão que tomava as avenidas. Não era a pressa das pessoas em sair das avenidas. Isso tudo era, de certa forma, comum.



Percebeu que no prédio vizinho os vizinhos conversavam. Percebeu que havia um certo medo. Uma certa ansiedade que não era de todo ruim.



Passado o sentimento inicial começou a preocupar-se com as pessoas que gostava. E lembrou-se de ligar para elas. Mas seu telefone não funcionava. E começou a preocupar-se se as pessoas estavam preocupadas com ele. E presumiu que não haveria nada que os fizesse preocupar.



Afinal, era só a luz que faltava.



Acendeu um cigarro e e decidiu dar uma volta. Logo ouviu sirenes e gritos e correrias e gritos e batidas e gritos e um ruído.



Um ruído? a quanto tempo não prestava atenção nos ruídos? Um ruído.Vindo de dentro. Sussurrando. Metade perguntando metade respondendo. a quanto tempo não ouvia sussurros? E percebeu que não adiantava tentar reconhecer seu bairro aquela noite. Não era uma noite comum.



E ao decidir voltar ao seu apartamento com vista para a cidade escura e um tanto desconcertada percebeu que algo mudara. Mas não conseguia ver nem saber o quê.



Subiu quinze andares pé ante pé. Nunca tinha usado as escadas de seu condomínio. Hoje cumpriria a 'via crucis' um andar por ano de vida ali.



E como não podia mais fazer o relatório foi dormir. Com a certeza de que acordaria cedo para finalizá-lo.



Mas o despertador não tocou. Não que fosse exatamente um problema ele havia mesmo acordado com o Sol. a quanto tempo não acordava com o Sol? Mas aquilo não era comum. Olhou seu despertador e viu que ele não ligara. Não sabia bem a que horas havia ido dormir, mas a luz devia ter voltado.



Ligou a televisão. Que não ligou. Olhou pela janela e viu os semáforos desligados. Não era possível. Tomou um banho gelado. Era preciso se manter na rotina. Gelada rotina. E ao chegar no trabalho lembrou-se de que não havia relatório.



Pegou uma caneta e escreveu. E antes que pudesse apagar o que havia escrito canetas não pagam o bilhete voou. Como se o destino interferisse. Como se deus quisesse que o bilhete não fosse rasurado. Como se a fortuna tornasse o bilhete uma passagem sem volta.



E atravessou a porta. E descobriu que o caminho se faz caminhando. a quanto tempo sabia disso?



A luz voltou logo em seguida. Ele não.



Conto retirado do blog Letras Ordinárias

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Para quê serve um crítico?

É isso aí meu polvinho, a pergunta se faz também necessária, para quê um crítico de arte?

 É meus caros e carinhas, baratos e baratinhas, e também os de preço médio,





Para que demônios serve um crítico?



Não vale a resposta óbvia "Para criticar" nem a mais óbvia ainda "Para nada"! Objeto de ódio e amor, de raiva e paixão, enfim um objeto. Digo, um objeto de polêmica. Quem aí nunca sofreu com uma crítica negativa?



Amigos, críticos profissionais, todos nós já ouvimos / lemos algo que não gostamos. E nos irritamos e quisemos matar o sujeitinho safado que pensa que sabe tudo mas que na prática só sabe falar besteira! Exceto quando nos elogia, não é verdade?



É polvinho e polvinha, de fato é um ser estranho esse tal de crítico. Serviria ele para dizer ao público que deve ou não comparecer a um espetáculo? Bom, para isso pressupõe-se uma certa confiança do público em geral com este serzinho desprezível, correto?



Ou serviria ele para informar ao artista aquilo que o diretor não conseguiu enxergar, como um amigo sincero que te diz que teu cabelo precisa ser cortado urgentemente ou que estás gordo ou ainda, bem isso é mais raro um pouquinho, que você está ótimo!



O Crítico de arte. Merece ser respeitado quando respeita. Essa é minha opinião. E respeitar não é falar com educação, mas falar algo que preste. Xingar quando preciso, mas com argumentos. Elogiar quando necessário mas com argumentos.



Porque senão ele não passará de um pentelho nerd metido a besta que escreve um blog qualquer... e ... quer dizer... vocês entenderem né?!

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Uniban e o mundo real

Não pude deixar de acompanhar, como vocês, a repercussão do caso. Não pude deixar de estranhar a atitude da universidade de expulsar a garota, e se encontrar alguém suspender os agressores. Quer dizer que mais grave é colocar mini-saia do que estuprar a garota? Pune-se ambos, mas a 'mais culpada' é a garota que "incitou os jovens"?

Mil perdões a todas e todos,



Permito-me um momento de 'off topic' para refletir sobre a capacidade do ser humano de piorar o que parece impossível. Já escrevi um post sobre o assunto, onde fui mal interpretado até (pensaram que estava justificando a agressão pelo fato de não concordar com as vestimentas, isso nunca foi dito!!), onde tentei expor minha opinião de maneira simples e objetiva:



Acho errado ir à faculdade vestindo trajes de balada. Homem E Mulheres. Mas absolutamente NADA justifica o ocorrido! Nada! Da mesma forma que não culpo uma mulher que foi estuprada por ter se vestido de maneira provocante (e nem acho errado vestir-se assim) não podemos pensar em culpar a garota.



Pronto. Repeti. Espero ter ficado claro. Universidade é local de estudo. Não custa levar uma mochila e trocar-se após as aulas. Isso não quer dizer que alguém tenha o direito de abrir a boca para falar, quanto mais achincalhar alguém publicamente.



Mas mais grave que o nível dos estudantes parece ser o nível dos 'donos' da Fantástica Fábrica de Chocolates (ou você acha que dá pra levar a sério??!!).



O comunicado (veja abaixo) entre outras coisas diz que



a aluna se negou a complementar a vestimenta para desfazer o clima que havia gerado



Ah, bom, então tudo bem, vamos expulsá-la. Queria perguntar ao 'ser humano' que escreveu o comunicado se é normal ser expulso de uma 'UniQUALQUER' por se vestir de maneira inadequada mas ser apenas suspenso TEMPORARIAMENTE por ter xingado, agredido moralmente (ou não?!), ameaçado de estupro, de linchamento além de formação de quadrilha, esmurrar a porta (não é um bem da faculdade??) e quase entrar em confronto com força policial?!?!?!



Tudo bem não é Sr. Ivo Noal? (eu explico, para um bicheiro é mais fácil achar normal confrontos deste tipo...) Façam o favor e coloquem este nome no google. Só isso.



Não é normal o que houve. Qualquer um com um mínimo de dignidade expulsaria a Geyse. Expulsaria os envolvidos. Expulsaria os professores. E FECHARIA AQUILO. Porque menos do que isso é simplesmente risível.



E pensar que, para a lei, o diploma da Uniban vale tanto quanto o da USP, UNESP, UNICAMP, UFRJ entre tantas outras UNIVESIDADES que não são qualquer.



e tenho dito.





(clique para aumentar...)

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Para que serve um diretor?

Não, esta não é uma pergunta irônica. É que muita gente não sabe mesmo qual a função do diretor no teatro. E no teatro de grupo? Processo colaborativo, processo comum, para que demônios serve um diretor?



That's it my litlle male and female octupus!



Como têm passado? (não diga! Não diga! humpf droga vou dizer... COM O FERRO!).



Nessas idas e vindas e vindas e idas noite adentro (sem duplo sentido ein pessoal) acabei por ouvir de um ser a questão que se coloca:



Para que raios serve um diretor?



É preciso se conter, você que é atriz ou ator,  para não dizer 'para encher a paciência'. Mais que isso o diretor serve para conter o ego desses malucos abobados que se chamam atores.



O diretor serve para dar uma olhada geral, como um transeunte que nada tem com o espaço e por isso mesmo é mais capaz de dizer o que está errado e precisa ser corrigido.



Acontece que o diretor tem muito com o espaço do teatro, dirá o sábio leitor e a viva leitora. E por esta razão acaba por se envolver.



Ok, é fato. Mas é fato também que se tem alguém com uma visão do geral, do todo, que nós atores, geralmente não conseguimos este alguém é o diretor. Ou deveria ser.



E para que serve ele afinal?? Oras bolas e carambolinhas, para organizar a bagunça. Já diria minha vó 'por ordem no puteiro' (ok, ela não diria isso mas vocês entenderam...).



E um bom diretor é capaz disso. De colocar os atores na mesma sintonia (estética, de ritmo etc.).



Portanto não vejo diferença no papel do diretor num processo colaborativo ou no velho e bom (sinto-me facista com essa frase) SISTEMA TRADICIONAL.



That's it! E tenho dito!

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Ser ou não ser? Eis a questão...

Ser ou não ser? Eis a questão... O dilema de Hamlet segundo eu mesmo. Ou não também, porque somos todos a união do que já lemos /  vimos / assistimos. Somos? Ser ou Não ser? Eis a questão....





Lendo o belíssimo texto do querido Vário do Andaraí (o taxista mais batuta da cidade maravilhosa) me lembrei (sabe-se deus porque) do famoso "Ser ou Não ser".



Se você - caríssimo leitor, nobilíssima leitora - nunca teve a oportunidade de ler esta peça, faça o mais rápido possível e depois leia o post. Se você já leu sabe que trata-se de uma vingança.



O ponto central é o também lema do Chaves (é, baixei o nível mesmo...) "Vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena" que todos já vimos. O Fantasma do pai realmente aparece? Ou é um interpretação do estado de espírito de Hamlet?



A última montagem que vi se absteu de decidir. Wagner Ramos era ao mesmo tempo Hamlet e o fantasma.



Mas o ponto central é justamente o assassinato. Ser ou não ser Honrado e criminoso? Eis a questão...



Se Hamlet decide por ser assassino, há quem diga que não foi mais do que uma "manutenção da honra". Há quem pense somente em assassinato frio e calculado. O fato é que há diálogos preciosíssimos no drama.



O melhor deles? Nada tem com Hamlet, ou tem porque tudo somos todos



    SEGUNDO COVEIRO: Quereis que vos seja franco? Se não se tratasse de uma senhorinha de importância, não lhe dariam sepultura cristã.



    PRIMEIRO COVEIRO: Tu o disseste; é pena que neste mundo os grandes tenham mais direito de se enforcarem e afogarem do que os seus irmãos em Cristo. Dá-me a pá. Não há nobreza mais antiga do que a dos jardineiros, dos abridores de fossas e dos coveiros; todos exercem a profissão de Adão.

O diálogo surge porque é dada sepultura Cristã a uma suicida.Engraçado, reflete a realidade.



E tudo isso para dizer que nem sempre o mais importante é o que chamamos de "Ser ou Não Ser"...

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Michael Jackson, Uniban e o mundo real

Minhas amigas e amigos, já a algum tempo venho pensando em como não me calar diante da bizarrice que foi o show da Uniban (explico abaixo) ontem cheguei a algumas conclusões e gostaria de compartilhá-las....



É isso aí meu polvinho!



Bem vindos ao mundo, trem sem paradas (portanto não peça para descer), em que vivemos. Mundo em que passa pela cabeça de um ser humano se arrumar feito numa balada para assistir aula (será?!). Mundo em que este fato não é simplesmente visto como falta de educação (no sentido de não ter sido educada mesmo) mas como agressão impossível de ser ignorada. Mundo em que se vestir de maneira desadequada ao local onde você se encontra pode ser motivo para ameaças, agressões e porque não, estupro?



É meus coleguinhas... a vida está difícil...



Confesso que não sei mesmo o que me pareceu mais bizarro o fato de alguém encarar de verdade a faculdade como local de badalação e não de estudo ou o fato de seres, como bem definiu um amigo, "Neardentais do Jardim de Infância" estarem sem coleira a solta por aí...



Mas é isso aí o mundo funciona assim mesmo. E não me venha perguntar o que é que isso tem a ver com teatro que farei questão de surrá-lo(a) com pontapés, xingos e berros! E não haverá PM para tirar-lhe de minhas pancadas ein senhores! E senhoras...



Fui ver o filme do Michael Jackson. Pirado, a frase que mais repetia era "With Love". Sujeitinho engraçado esse tal de Michael... O cara com 50 anos, já ganhou tudo o que podia e resolve fazer um show e não se contenta em ser um bom show. Tem de ser O MELHOR SHOW. E seria, em minha humilde opinião, seria.



E o que tem em comum Michael e a - jamais vou me referir a ela com o nome que a tornou famosa -  Perdida da Uniban?



A inocência.



Para mim, Michael de fato se deitava e dormia com as crianças em sua Neverland. Para mim Michael seria incapaz de se aproximar delas sexualmente. Por quê? Porque, para mim, ele tinha esta pureza infantil. Que de fato chega a ser doentia. Mas quem liga?



Transformaram o rapaz num monstro doente, condenaram-no mesmo tendo sido inocentado pela justiça americana, sem provas. Mas quem liga? Ele tinha um jeito bizonho...



A menina da Uniban, tadinha, não ouviu falar do termo Universidade. Não sabe para que serve aquilo. E a culpa é dela? Ou de alguém - leia "VOCÊ E EU" - que permite 'universidades' do nível da Uniban?



É meu polvinho, como disse, o trem não para. Não adianta querer descer...

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Crítica - Um Mau dia para Pescar

Hoje a crítica do filme "Um Mau dia para Pescar", uma co-produção Uruguai e Espanha do diretor Álvaro Brechner. (cuidado, Spoiler)



Primeiro é preciso dizer que se você não é de São Paulo terá de torcer muito para que o filme chegue até você. Se você é de São Paulo ou já viu o filme ou terá de torcer muito para que o filme chegue até você.



O filme foi o primeiro (e único, me envergonho sim...) que vi na 33ª Mostra Internacional de Cinema.



O filme trata de uma fábula. Não muito longínqua para nós que sabemos o que é fazer teatro por aqui. Trata-se de um ex-campeão mundial de luta livre que ganha agora seu pouco dinheiro com a ajuda de Príncipe seu suposto empresário e desafios públicos contra locais.



Ambos, Príncipe e Van Oppen (o tal lutador), acabam em uma pequena cidade da Argentina para mais um desafio.



Acontece que o ex-lutador tem uma aparência não muito saudável, gordo e velho ele já não passa confiança a ninguém. Príncipe trata de armar um desafio com um ex-lutador local e, como sempre, tenta persuadi-lo a perder a luta propositadamente.



O local acaba preso por uma confusão que causa no bar.



O Filme tem como mérito a construção dos personagens, bem como a atmosfera que consegue criar. Se os personagens parecem acabados para a vida, assim também é a cidade em que se encontram. Com cores escuras, ainda que em dia de sol, e uma câmera muito bem conduzida o filme prende o telespectador.



Por tratar-se de uma fórmula anelar (onde o início é também o final) o telespectador acaba por quase saber o que acontecerá no final. Eu disse quase.



Porque o que sabemos é que alguém se machucou no desafio e tão somente isso.



Como o lutador local acaba preso chega até Príncipe um outro local conhecido só como "Matador".

Príncipe que não tem o dinheiro para honrar o desafio de Mil dólares feito com o "Matador" começa a se desesperar concluindo que seu lutador não pode com o desafiante.



Trata-se de uma fábula. Como bem disse o diretor do filme, Álvaro Brechner, na sessão que pude assistir:



Trata-se de um filme sobre um vendedor de sonhos



E é isso mesmo. Vale a pena conferir, caso surja a oportunidade.