quinta-feira, 29 de outubro de 2009

O fazer teatro

Você chega no Teatro, entra, o palco está vazio, assim como a platéia. Você cumprimenta o bilheteiro e a faxineira que religiosamente limpa aquela manchinha que você propositadamente deixou no canto esquerdo do palco para não ficar fora do foco. E entra no camarim....





Você arruma suas coisas. Como sempre. Você chegou cedo porque gosta de ter tempo para se maquiar, colocar o figurino e bater um papo com o elenco antes da peça começar.



Eventualmente você faz um aquecimento. Guarda a garrafa de água no canto da coxia, você sabe que depois daquela cena vai precisar de água e terá exatamente o tempo necessário para tomá-la.



Você repassa em sua cabeça cada vírgula do texto. Sabe que aquela fala não está como deveria e resolve mudá-la, testa uma, duas, quinze maneiras. Volta à maneira original, é melhor assim.



De repente, não mais que de repente você começa a pensar no porque disso tudo. Você não vê os jogos do teu time, não sai com os amigos que gostaria e não almoça aquele almoço de família que lhe é tão caro. E ainda ouve piadas que insinuam que tua profissão não é trabalho. E começa a duvidar do contrário.



Mas está firme, forte. O resto do elenco chega e começa a fazer piadas sobre amenidades. Você entra na deles, você sabe que nada é tão grave. O iluminador e o operador de som chegam, e colocam aquela música que sabem que te empolga.



Você começa o aquecimento se divertindo um pouco mais. E volta para a coxia. O público começa a ingressar o teatro.



O burburinho não é tão baixo que não possa ouví-lo, mas também não é alto do jeito que você gostaria que fosse. O mundo continua girando.



Tocam os sinais, você deseja "MERDA" aos colegas e entra em cena.



Para morrer feliz.

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